Prevenção de complicações neonatais através da pesquisa de Streptococcus Beta Hemolítico em Gestantes

O conhecimento dos métodos laboratoriais para o diagnóstico precoce da infecção pelo Streptococcus beta hemolítico do grupo B ou Streptococcus agalactiae é fundamental, pois este patógeno constitui uma das principais causas de sepse neonatal, associada à mortalidade elevada. A incidência da infecção é de 1,3 a 3 por 1000 nascidos vivos.A colonização do trato digestivo baixo ocorre em cerca de 15 a 35% da população. Do trato digestivo baixo a bactéria pode colonizar os genitais, e menos freqüentemente o trato urinário. Deste modo, a colonização vaginal é intermitente, sendo a colonização anorretal mais constante.

Etiopatogenia

As mucosas dos tratos gênito-urinário e gastrintestinal da gestante são os sítios de aquisição do Streptococcus beta hemolítico do grupo B. A aderência do Streptococcus beta hemolítico do grupo B à superfície mucosa representa o evento inicial na colonização e infecção. Comparando com outras espécies bacterianas, esse patógeno adere de forma muito eficiente às células do epitélio vaginal e às membranas amnióticas. A presença do patógeno nestes sítios durante o parto é o principal fator para o RN adquirir infecção sintomática ou assintomática: 10 a 30% das gestantes são colonizadas pelo Streptococcus beta hemolítico do grupo B na região vaginal ou retal.

A aquisição da bactéria pode ocorrer no canal de parto, ou pela ascensão da bactéria para a cavidade uterina após ruptura de membranas. A transmissão ascendente para o útero aumenta o risco de disseminação da infecção. Os fatores de defesa do líquido amniótico podem impedir a proliferação do Streptococcus beta hemolítico do grupo B, embora algumas cepas possam se multiplicar mais efetivamente do que outras, dependendo do grau de virulência.

Deste modo, o crescimento no Líquido amniótico pode representar outro fator responsável pela diferença de virulência na infecção perinatal. A deglutição de Líquido amniótico infectado horas ou dias antes do parto pelo feto pode resultar em infecção precoce pós-parto. O risco do recém-nascido em adquirir infecção está diretamente relacionado com o número absoluto de microorganismos no canal de parto durante o nascimento.

Os principais fatores de risco clínicos para a aquisição do Streptococcus beta hemolítico do grupo B são: a ruptura prolongada de membranas (> 18 horas), evidência de corioamnionite, ruptura prematura da bolsa (< 37 semanas de idade gestacional), gestação múltipla, maior duração do trabalho de parto, febre materna intraparto (> 38ºC), trabalho de parto prematuro, exposição a grande inóculo materno, antecedente materno de filho com doença invasiva por esta bactéria e bacteriúria durante a gestação. Recentemente os estudos têm demonstrado que o fator preditivo mais importante de infecção invasiva pelo Streptococcus beta hemolítico do grupo B é a exposição ao agente através do contato com o trato genital materno.

Maior maturidade fetal, inóculo bacteriano pequeno e menor grau de virulência do patógeno são fatores que diminuem o risco de doença invasiva pelo Streptococcus beta hemolítico do grupo B.

A imaturidade anatômica, bioquímica e imunológica pulmonar do RN, particularmente naqueles de muito baixo peso, favorece a multiplicação rápida do Streptococcus beta hemolítico do grupo B e a evolução fulminante da doença. Recentemente foi demonstrado que a expressão da beta hemolisina do Streptococcus beta hemolítico do grupo B está diretamente correlacionada com lesão de células pulmonares “in vitro“.

A pneumonia por Streptococcus beta hemolítico do grupo B caracteriza-se por lesão das células epiteliais, hemorragia alveolar e exsudato inflamatório. Os estudos realizados demonstraram deficiência de surfactante pulmonar (SP), com formação de membranas hialinas, secundária à ação do Streptococcus beta hemolítico do grupo B. A infecção pulmonar promove a diminuição da produção e interfere com a função do SP, devido ao influxo de proteínas plasmáticas para o interior dos alvéolos.

Clínica

Na maioria dos RN a infecção pelo Streptococcus beta hemolítico do grupo B está limitada à membrana mucosa, sendo resultado da contaminação de orofaringe, conteúdo gástrico ou trato intestinal pela deglutição do líquido amniótico infectado ou secreção vaginal.

A infecção neonatal pelo Streptococcus beta hemolítico do grupo B pode ocorrer como manifestação de início precoce, logo após o nascimento/primeiras horas de vida ou até sete dias depois (média 20 horas). A incidência é de 0,7 a 3,7 por 1000 nascidos vivos. Pode haver início tardio, que afeta RN com idade maior que sete dias (média 24 dias), podendo ocorrer até os três meses de vida. Nestes casos a principal manifestação clínica é a meningite, com incidência de 0,5 a 1,8 por 1000 nascidos vivos.

O quadro clínico correlacionado com o Streptococcus beta hemolítico do grupo B pode variar desde uma bacteremia assintomática até a sepse de evolução rapidamente progressiva, muitas vezes de evolução fatal. 56% dos RN com doença de início precoce são sintomáticos ao nascimento, entretanto, de 37 a 52% são sintomáticos com quatro a seis horas de vida.

Microbiologia

O Streptococcus agalactiae ou Estreptococo do grupo B ou GBS é um coco Gram positivo beta-hemolítico, de rápido crescimento nos meios usuais em microbiologia.
Este microorganismo é encontrado como parte da microbiota do trato gastrintestinal e/ou do trato genito-urinário, sendo a sua presença neste último decorrente da colonização do primeiro. Os índices de colonização em gestantes variam de 10 a 30% .

A cultura rotineira de secreção vaginal detecta este patógeno, mas não tem a sensibilidade ideal, havendo, portanto, a necessidade do uso de um meio de enriquecimento específico. No Bioanálise, todas as pesquisas são realizadas em meio seletivo para S. agalactiae.

Materiais Clínicos a serem Coletados para Análise

Preconiza-se coletar um “swab” do canal vaginal, intróito vaginal. A coleta deve ser realizada entre a 35ª e 37ª semana de gestação, sendo este intervalo escolhido porque é aquele que apresenta melhores valores preditivos negativo (97%) e positivo (85%).

Quimioprofilaxia

O uso de antimicrobianos só está indicado como profilaxia ao início do trabalho de parto. Estudos mostram que 1 a 2% das crianças nascidas de mães colonizadas com Streptococcus beta hemolítico do grupo B e não submetidas a quimioprofilaxia desenvolvem doença. Esta é a base para uso da quimioprofilaxia. Esta estratégia é capaz de reduzir em trinta vezes a incidência de doença neonatal pelo Streptococcus beta hemolítico do grupo B.

Conclusão

A identificação de gestantes colonizadas com Streptococcus beta hemolítico do grupo B, e a implementação da quimioprofilaxia ao início do trabalho de parto podem reduzir significativamente as complicações por Streptococcus agalactiae em recém nascidos. O Bioanálise possui meios altamente especificos para realizar a cultura, isolamento e identicação do Streptococcus beta hemolítico do grupo B, com resultado rápido e preciso em 24 horas.